5/24/2008

O Casamento da Dona Baratinha

O Casamento da Don Baratinha

Dona Baratinha foi varrer a casa e achou um tostão. Na mesma hora, desatou o avental, lavou o rosto, passou pó-de-arroz nas faces, e foi fazer compras. Com o tostão achado comprou móveis, para mobiliar a casa inteira, uma geladeira, um aparelho de televisão, tapetes e cortinas, vestidos e mais vestidos, sapatos caros e enfeites. Comprou jóias e espelhos de cristal. Comprou petiscos muito gostosos e fez um sortimento de doces que é coisa de que barata gosta muito. O troco pôs numa caixinha forrada de cetim vermelho, chaveou-a, amarrou um laço de fita nos cabelos e foi muito lampeira para a janela apreciar o movimento e arranjar um casório, uma vez que tinha dote.
"Quem quer casar com dona Baratinha,
Tão bonitinha
Que tem dinheiro na caixinha?"
perguntou ela com a voz mais docinha do mundo.
Passou o boi.
- Eu quero – mugiu.
E ela:
- E como é que você muge de noite?
E o boi:
- Assim: béééééééé! – abriu o focinho num berro de doer os ouvidos.
Dona Baratinha correu assustada para dentro. Lá cheirou o frasquinho de sais, e depois bem calma, voltou para a janela. O boi estava esperando a resposta.
- Ah! – Dona Baratinha se abanava toda afobadinha. – Não quero me casar com você, não. Você me assusta.
O boi foi embora, e ela fincou os cotovelos na janela outra vez, esperando que passasse outro moço bonito.
Passou o burro.
"Quem quer casar com dona Baratinha,
Tão bonitinha
Que tem dinheiro na caixinha?"
Ciciou a mocinha casadoira, esfregando de leve uma asa na outra.
O burro deu um zurro de abalar a casa:
- Eu quero.
- Mas é assim que você zurra de noite? – perguntou a dona Baratinha, ainda toda trêmula do susto.
- Ah! – o burro deu um risadão. – De noite eu canto com voz muito mais forte. – E deu outro zurro, de arrebentar os tímpanos.
- Deus me livre de casar com você, burro. Você não me deixaria dormir.
O burro foi embora e a dona Baratinha se encostou outra vez romanticamente no peitoril da janela. Ora ajeitava a fita no cabelo, ora suspirava.
Passou o cavalo.
"Quem quer casar com dona Baratinha,
Tão bonitinha
Que tem dinheiro na caixinha?"
- Eu quero – relinchou o cavalo, mostrando todos os dentes, de satisfação.
- Como é que você faz, de noite?
- Eu, minha flor, cantarei de amor tão fortemente...
- Mas como?
- Assim: inoch! inoch! inoch! inoch! inoch!
- Ai! Chega! – gritou dona Baratinha tampando as mimosas orelhinhas. – Chega! Eu não me caso com cavalo de jeito nenhum. Você não me deixaria dormir direito.
O cavalo foi embora, dona Baratinha ajeitou os cotovelos em cima de uma almofada, prevendo que a espera seria longa.
Passou o cachorro.
"Quem quer casar com dona Baratinha,
Tão bonitinha
Que tem dinheiro na caixinha?"
Falou a moça, muito assanhadinha, vendo-o bonitão, de pêlo lustroso, orelhas em pé, passo ligeiro.
- Eu quero. – O cachorro latiu um consentimento rápido.
- Como é que você faz de noite, cachorrinho?
- Depende.
- De quê?
- Se estou alegre é assim: au! au! au!. Se estou triste ou doente, é assim: Uaaaauauuuu! – E o cachorro uivou, de focinho para cima, caprichando nos bemóis.
- Ui! Ai! Aiaiaiai! Não me faça chorar! Você não me serve. Tanto a sua alegria como a sua tristeza me incomodam.
- Ui! Ai! Aiaiaiai! Não me faça chorar! Você não me serve. Tanto a sua alegria como a sua tristeza me incomodam.
Dona Baratinha suspirou um pouco, pois fazia tanto tempo que estava na janela e ainda não tinha encontrado noivo que servisse.
Passou o gato.

Que belo bichano, de pelagem de seda, cinzento, macio, cara redonda, boquinha cor-de-rosa, bigodes eriçados, orelhas recortadas em triângulo isósceles.
O coração de dona Baratinha palpitava mais apressado quando ela cantou em voz emocionada, desta vez:
"Quem quer casar com dona Baratinha,
Tão bonitinha
Que tem dinheiro na caixinha?"
- Eu quero – ronronou o gato, no fundo da garganta, numa doçura de voz.
- Você ronrona assim, de noite, gatinho?
- De noite? – O gato fez um floreio com a cauda. – Não. De noite, subo ao telhado. Sou namorado da lua. E deliro miando assim: miaaau! miau! miiiiaaaau!
Dona Baratinha suspirou.
- Que pena! Você não me serve não. Não me deixaria dormir. Que pena!
Passou o bode.
"Quem quer casar com dona Baratinha,
Tão bonitinha
Que tem dinheiro na caixinha?"
O bode berrou, muito azoretado:
- Eu quero.
- Quer, coisa nenhuma! – respondeu logo dona Baratinha. – Você é muito sem modos, malcheiroso, barulhento. Com esse berro tremido vai me incomodar de noite.
Passou o galo.
De crista e esporão. De barbela vermelha. Asas douradas, rabo empenachado. Bonito de se ver como um mosqueteiro do rei da França.
- Como eu gostaria que esse fosse o meu noivo – pensou dona Baratinha. E com voz muito esperançada:
"Quem quer casar com dona Baratinha,
Tão bonitinha
Que tem dinheiro na caixinha?"
- Eu quero – cocoricou o galo, riscando o chão com a aguda espora.
- Você canta de noite?
- Se canto! – blasonou ele, e a barbela ficou mais vermelha de orgulho. – Se canto! Começo à meia-noite e vou madrugada afora, cocoricóóóóóóó’!
Dona Baratinha virou a carinha bonita para o outro lado.
- Não serve! Vá andando!
E assim passaram o carneiro, o macaco, a onça, a anta, a capivara, o gambá, muitos e muitos bichos, de casa e do mato, nenhum servia, porque iria incomodar o soninho leve de dona Baratinha.
Já bem tarde, quando as luzes da cidade se acenderam, passou um camundongo, quietinho, sorrateiro, dando corridinhas e paradinhas. Espiando matreiro para todos os lados. Correndo outra vez, os olhinhos espertos saltando daqui para ali. Dona Baratinha parou a espiar os seus inquietos manejos, divertida com o bichinho, e quase se esquecia de perguntar. Lembrou-se em tempo, quando o camundongo já ia longe:
"Quem quer casar com dona Baratinha,
Tão bonitinha
Que tem dinheiro na caixinha?"
- Eu quero – guinchou o ratinho, tão baixo que quase não se ouvia.
- O que é, ratinho? Você quer?
- Quero.
- Como é que você faz de noite?
O ratinho guinchou:
- Coin, coin, coin.
- Assim baixinho? – perguntou dona Baratinha, encantada. – Então serve. Você não me acorda com esse barulhinho. Como é o seu nome?
O ratinho empolou bem o peito e falou:
- Dom Ratão.
Deu outra corridinha, para longe, para perto.
Ficaram noivos.
No dia do casamento preparava-se uma festa de arromba. O troco do tostão dava para tudo. Mataram frangos, não sei quantos, leitões, bois, e fizeram doces e mais doces.
- Sabe do que eu mais gosto, Baratinha? – perguntou o noivo, no seu guincho macio.
- Do quê?
- De toicinho cozido no feijão.
E então dona Baratinha deu ordem para que se fizesse uma caldeirada de feijão com torresmo, bem temperado. O perfume da panela, logo pela manhã, recendia pela casa toda. Dom Ratão chegou, eram umas dez horas, muito chibante, de casaca e cartola, luvas brancas, bengala de castão dourado, calças listradas. Parecia o presidente da República em dia de recepção no palácio. Mas qualquer coisa o inquietava. Farejava, erguendo o focinho fino, dava corridinhas mais do que de costume.
- Está nervoso, querido?
- Estou.
Na hora da saída, desceu na frente dona Baratinha, arrastando a cauda do vestido de cetim, e o comprido véu de tule pela escadaria. O noivo veio a passo, atrás. A noiva já tinha entrado no automóvel, quando dom Ratão fez cara de contrariedade:
- Que maçada!
- Que foi?
- Esqueci o relógio lá em cima.
- Vou mandar alguém buscar.
- Não. Só eu sei onde o deixei. Espere um minuto.
Deu uma corridinha até o meio da escada, voltou, avisou:
- Um minutinho. Eu já venho.
Outra corridinha para cima. E a noiva ficou esperando.
Passou meia hora, dom Ratão não voltou. No relógio da sala soaram as onze. Dom Ratão não voltava. Chegou o meio-dia. Não voltara dom Ratão.
- Fugiu – gemia dona Baratinha inconsolável. – Não gosta mais de mim. Fingiu que ia buscar o relógio e fugiu para não casar. – Subiu novamente a escadaria arrastando o vestido de cauda e o véu. Por muito que fosse o desconsolo, não era caso para se fazer jejum por isso.
- Afinal, não se perdeu grande coisa – comentou uma empregada. É melhor pôr o almoço.
E lá se foram todos para a mesa.
Mas então é que foi uma dor. Ao mexerem o caldeirão de feijão encontraram o coitado do noivo, morto, cozido, misturado com os torresmos. Que horror! Dona Baratinha, depois de clamar que "Dom Ratão, coitado, era tão bom, eu sabia que ele gostava de mim, aconteceu, coitado!, de ir provar um torresmo e cair no caldeirão, podia ter pedido, a gente fazia um pratinho para ele, não quis me desgostar, coitado! tão delicado" – teve um chilique e foi um alvoroço monstro em casa de dona Baratinha, tão bonitinha.
Pois dom Ratão tinha morrido no caldeirão de feijão cozido, por causa de um pedaço apetitoso de toicinho. Dona Baratinha pôs o luto, trancou todas as portas, e chorou tanto que lavou a casa com lágrimas. A cozinheira de dona Baratinha pegou o pote e foi buscar água no rio. Encheu a vasilha, mas em vez de ir para casa, começou a se lastimar:
- Como é triste esta vida. Dom Ratão morreu. Dona Baratinha, tão bonitinha, está de luto. E eu, por isso, quebro o pote.
Pam!
Bateu o pote numa pedra e foi-se embora. O rio ouviu tudo aquilo, encolheu-se e resolveu:
- Eu também seco.
Os bois vieram à tarde, nem sombra viram de água.
- Que é isso, rio? Que aconteceu?
- Dom Ratão morreu, cozido na panela de feijão com toicinho. Dona Baratinha pôs luto, a cozinheira quebrou o pote, e eu também sequei.
- Que horror!
Os dois abanaram a cabeçorra, melancólicos e declararam:
- Então nós derrubamos os chifres.
Foram pastar. O campo, quando viu os bois mochos, muito sem graça, pastando, se espantou:
- Que foi isso? Que fizeram vocês dos chifres?
- Você então não soube da grande desgraça?
- Não.
- Pois dom Ratão morreu cozido, dona Baratinha pôs luto, a cozinheira quebrou o pote, o rio secou e nós derrubamos os chifres.
- Que tristeza! Eu também vou secar.
De verdinho que estava, o campo ficou todo amarelado. Bem no meio dele estava um laranjeira e quando ela viu aquilo perguntou:
- Que é isso, campo? O que lhe deu? Está se sentindo mal?
- Não, dona Laranjeira. Eu estava muito bem até. Amarelei foi de desgosto. Não vê que dom Ratão morreu cozido na panela de feijão com toicinho, dona Baratinha pôs luto, a cozinheira quebrou o pote, o rio secou, os bois derrubaram os chifres e eu também sequei?
A laranjeira derramou uma lágrima e disse:
- Então, eu derrubo as folhas.
Choveram folhas no chão.
Os passarinhos que moravam nela, quando voltaram do trabalho à tarde, encontraram os ninhos expostos ao vento, ao sol e à chuva, na árvore nua.
- Que foi isso, dona Árvore, o que aconteceu que esta pensão está sem telhado?
- Vocês que andam voando por aí não souberam da desgraça?
- Não, senhora.
- Pois dom Ratão morreu, dona Baratinha pôs luto, a cozinheira quebrou o pote, o rio secou, os boi derrubaram os chifres, amarelou o campo e eu também derrubei as folhas.
Os passarinhos choraram, choraram.
- Que tristeza! Pois, de dó, nós também derrubaremos as penas.
E lá se foram eles, peladinhos, tremendo de frio, pelo campo, e andando em vez de voar, pois não tinham penas nem as asas.
O céu espiou aquele disparate, lá de cima, e estranhou:
- Ave Maria! Que mundo louco! O que será que deu naqueles passarinhos que perderam até a roupa?
Os passarinhos contaram:
- O senhor não sabe da grande desgraça?
- Não sei.
- Dom Ratão morreu cozido, dona Baratinha pôs luto, a cozinheira quebrou o pote, o rio secou, os bois derrubaram os chifres, o campo amarelou, a laranjeira ficou sem folhas, nós também nos depenamos.
- Que calamidade!
O céu se franziu numa carranca medonha. Começou a trovejar e a ventar. E depois urrou, com um vozeirão arrepiante:
- Pois então eu também vou despencar daqui de cima.
E desabou em cima da terra, no meio da tempestade mais horrorosa que já houve.
E foi assim que o mundo, certa vez, se acabou, só porque dom Ratão, que ia se casar com dona Baratinha, tão bonitinha, morreu cozido no feijão.


5/22/2008

Poesia

Poesia
Vejamos a definição de poesia, pelo escritor brasileiro Assis Brasil:


"(...) uma manifestação cultural, criativa, expressiva do homem. Não se trata de um ´estado emotivo`, do deslumbre de um pôr-do-sol ou de uma dor-de-cotovelo; é muito mais do que isso, é uma forma de conhecimento intuitivo, nunca podendo ser confundido o termo poesia com outro correlato: o poema".




Para Aritóteles,

"(...) não é ofício de poeta narrar o que aconteceu; é sim, o de representar o que poderia acontecer, quer dizer: o que é possível segundo a verossimilhança e a necessidade. (...) a poesia é algo de mais filosófico e mais sério do que a história, pois refere aquela principalmente o universal, e essa o particular. (...) Daqui claramente se segue que o poeta deve ser mais fabulador que versificador; porque ele é poeta pela imitação e porque imita ações".




Ariano Suassuna afirma que:

"(...) como espírito criador que se encontra na raiz de todas as artes. (...) A poesia seria o espírito criador que se encontra por trás de todas as artes literárias, sejam estas realizadas através da prosa ou do verso".




Para Maiakovsky,

"A poesia começa onde existe uma tendência. (...) A poesia é uma indústria: das mais difíceis e das mais complicadas, mas, apesar disso, uma indústria. Aprender o ofício de poeta não é aprender o modo de preparar um tipo definido e limitado de obras poéticas, mas sim, o estudo dos meios de todo o trabalho poético, o estudo das práticas dessa indústria que ajudam a criar outros. (...) O trabalho do poeta deve ser quotidiano, a fim de melhorar a técnica, e acumular reservas poéticas".




Para Eliot:

"(...) A poesia pode ter um significado social deliberado e consciente. (...) Podemos observar que a poesia difere de qualquer outra arte por ter para o povo da mesma raça e língua do poeta um valor que não tem para os outros. (...) nenhuma arte é mais obstinadamente nacional do que a poesia (...) a poesia que é o veículo do sentimento".
"A poesia é uma constante lembrança de todas as coisas que só podem ser ditas em uma língua, e que são intraduzíveis".




BIBLIOGRAFIA

ARISTÓTELES. Poética. São Paulo: Abril Cultural, 1979
BRASIL, Assis. Vocabulário técnico de literatura. São Paulo: Tecnoprint, 1979
ELIOT, T. S. A essência da poesia: estudos e ensaios. Rio de Janeiro: Artenova, 1972
MAIAKÓVSKI, Vladimir. Poética. São Paulo: Global, 1984
SUASSUNA, Ariano. Iniciação à estética. Recife: UFPE, 1975

Poema

O que é poema?

Vejamos as definições de um autor contemporâneo ,
o escritor Assis Brasil, para a palavra Poema;

"Poema é o ´objeto` poético, o texto onde a poesia se realiza, é uma forma, como o soneto que tem dois quartetos e dois tercetos, ou quatorze versos juntos, como é conhecido o soneto inglês. Um poema seria distinto de um texto ou estrofes. Quando essa nomenclatura definitiva é eliminada, passando um texto a ser apresentado em forma de linhas corridas, como usualmente se conhece a prosa, então se pode falar em poema-em-prosa, desde que tal texto (numa identificação sumária e mecânica) apresente um mundo mais ´poético` ou seja, mais expressivo, menos referente à realidade. A distinção se torna por vezes complexa. (...) a poesia pode estar presente quer no poema que é feito com um certo número de versos, quer num texto em prosa, este adquirindo a qualidade poema-em-prosa".

5/18/2008

Carta escrita em 2070 DC

Carta de 2070 DC

"Estamos no ano de 2070, acabo de completar os 50, mas a minha aparência é de alguém de 85. Tenho sérios problemas renais porque bebo muito pouca água. Creio que me resta pouco tempo.
Hoje sou uma das pessoas mais idosas nesta sociedade. Recordo quando tinha 5 anos. Tudo era muito diferente. Havia muitas árvores nos parques, as casas tinham bonitos jardins e eu podia desfrutar de um banho de chuveiro com cerca de uma hora. Agora usamos toalhas em azeite mineral para limpar a pele.
Antes todas as mulheres mostravam a sua formosa cabeleira. Agora devemos rapar a cabeça para mantê-la limpa sem água. Antes o meu pai lavava o carro com a água que saía de uma mangueira. Hoje os meninos não acreditam que se utilizava a água dessa forma.
Recordo que havia muitos anúncios que diziam CUIDE DA ÁGUA, só que ninguém lhes ligava; pensávamos que a água jamais terminaria. Agora, todos os rios, barragens, lagoas e mantos aquíferos estão irreversivelmente contaminados ou esgotados.
Antes a quantidade de água indicada como ideal para beber era oito copos por dia por pessoa adulta. Hoje só posso beber meio copo. A roupa é descartável, o que aumenta grandemente a quantidade de lixo; tivemos que voltar a usar os poços sépticos (fossas) como no século passado porque as redes de esgotos não se usam por falta de água.
A aparência da população é horrorosa; corpos desfalecidos, enrugados pela desidratação, cheios de chagas na pele pelos raios ultravioletas que já não têm a capa de ozônio que os filtrava na atmosfera.
Imensos desertos constituem a paisagem que nos rodeia por todos os lados. As infecções gastrointestinais, enfermidades da pele e das vias urinárias são as principais causas de morte.
A industria está paralisada e o desemprego é dramático. As fábricas dessalinizadoras são a principal fonte de emprego e pagam-te com água potável em vez de salário.
Os assaltos por um balde de água são comuns nas ruas desertas.
A comida é 80% sintética. Pela ressiquidade da pele uma jovem de 20 anos está como se tivesse 40. Os cientistas investigam, mas não há solução possível. Não se pode fabricar água, o oxigênio também está degradado por falta de árvores o que diminuiu o coeficiente intelectual das novas gerações.
Alterou-se a morfologia dos espermatozóides de muitos indivíduos, como consequência há muitos meninos com insuficiências, mutações e deformações.
O governo até nos cobra pelo ar que respiramos. 137 m3 por dia por habitante adulto. A gente que não pode pagar é retirada das "zonas ventiladas", que estão dotadas de gigantescos pulmões mecânicos que funcionam com energia solar, não são de boa qualidade mas pode-se respirar, a idade média de vida alcançada é de 35 anos.
Em alguns países ficaram manchas de vegetação com o seu respectivo rio que é fortemente vigiado pelo exército, a água tornou-se um tesouro muito cobiçado mais do que o ouro ou os diamantes. Aqui em troca, não há arvores porque quase nunca chove, e quando chega a registrar-se precipitação, é de chuva ácida; as estações do ano tem sido severamente transformadas pelos testes atômicos e da indústria contaminante do século XX.
Advertia-se que havia que cuidar o meio ambiente e ninguém fez caso. Quando a minha filha me pede que lhe fale de quando era jovem descrevo como os bosques eram bonitos, lhe falo da chuva, das flores, de como era agradável tomar banho e poder pescar nos rios e barragens, beber toda a água que quisesse, o quanto saudável a gente era.
Ela pergunta-me: Papai! Porque a água acabou? Então, sinto um nó na garganta; não posso deixar de sentir-me culpado, porque pertenço à geração que terminou de destruir o meio ambiente ou que simplesmente não deu importância aos avisos.
Agora os nossos filhos pagam um preço alto e sinceramente creio que a vida na terra já não será possível dentro de muito pouco porque a destruição do meio ambiente chegou a um ponto irreversível. Como gostaria de voltar atrás e poder fazer com que toda a humanidade tivesse compreendido isto quando ainda podíamos fazer algo para salvar o nosso planeta terra!

Fonte do texto: internet.

A doida - Carlos Drummond de Andrade

A doida (Carlos Drummond de Andrade In: Contos de Aprendiz.) A doida habitava um chalé no centro do jardim maltratado.  E a rua d...